Hoje na aula estivemos a comentar este quadro, mas houve dúvidas sobre a história que está por trás. Apesar de ser uma cena religiosa, Caravaggio pintou-a como uma cena de género. As personagens são homens comuns longe das "belezas" idealizadas do Renascimento. Caravaggio, ao que parece era um pouco dado a tabernas e folguedos, e como tal usava os seus "amigos da pândega" como modelos. Mãos de trabalho, rostos marcados pelo sol, corpos curvados pelo passar do tempo...tudo isso transparece nas suas obras agitadas pelos violentos contrastes de claro-escuro.
Voltando à ceia em Emaús...conta a história que dois dos discípulos de Jesus Cristo iam pelo pelo caminho que leva de Jerusalém a Emaús (...iam a pé) e que um viajante se juntou a eles. Eles estavam tristonhos porque o seu mentor tinha sido cruxificado, tinha morrido, sido enterrado, mas o seu corpo tinha desaparecido. Desta forma saiam goradas as esperanças (políticas e espirituais) de se ter encontrado um libertador para Israel. (esta história das escaramuças por aqueles lados, como constatam, não é fruto do século XX, mas já vem de longe)
O viajante, disse desconhecer a história e o tal cabeludo do Jesus Cristo, e então pediu-lhes o favor de lhe contarem à laia de telenovela. Quando chegaram à parte do túmulo vazio deixaram escapar as suas dúvidas em relação ao ressuscitamento do Messias... esgrimam-se ali uns argumentos sobre fé e as sagradas escrituras e acabam o dia numa taberna à beira da estrada (já em Emaús) onde o estranho viajante toma o pão, benze-o, parte-o e oferece-o... é então que os discípulos o reconhecem e como que por um acto de magia Cristo desaparece.
Boa história, que se enquadra perfeitamente no espírito barroco: o ser e o parecer, a essência da fé, o inesperado.
Agora olhem para o quadro: sobre a toalha branca, existem iguarias (a carne, a fruta) mas também em destaque encontramos o pão e o vinho. A mesa da taberna em Emaús transforma-se na mesa da última ceia de Cristo, um altar onde se celebra o sacrifício eucarístico.. reparem na prontidão com que o discípulo da esquerda responde a Cristo, inclinando-se para a frente e apoiando as mão nos braços da cadeira..reparem no rasgão no cotovelo...reparem na concha pendurada ao peito do outro discípulo (é o símbolo dos peregrinos...daqueles que empreendem a viagem pela fé)
Este é o momento exacto em que Cristo se dá a reconhecer aos discípulos. É o congelar do momento...no segundo antes eles não sabiam que aquele era o Messias...no segundo seguinte ele desaparecerá. Está mais uma vez a essência do barroco expressa neste quadro.
E onde encontrar este quadro? Na National Gallery, em Londres.
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