Quando falámos na Piéta, e da dor de uma mãe com o filho morto nos braços, lembro-me de vos ter referido o poema de Fernando Pessoa. Tentem fazer a ligação entre as duas formas - a escultura e a poesia. A arte, como já vimos, reflecte o tempo que a cria, mas ela também molda o tempo e o nosso modo de ver.
O Menino De Sua Mãe
"No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe."
Fernando Pessoa
Podem ouvi-lo declamado por João Villaret http://www.youtube.com/watch?v=9o89o4LxxAM
2 comentários:
Ai! tenho saudades :S
Os dois se referem a dor de uma mãe ao perder o filho mas de certa forma a pietá parece ter um cariz muito mais religioso em comparação com a poesia ainda assim e peço desculpa se me repito, os 2 abrangem de forma "poética" o sofrimento da mãe.
Ricardo 11ºj
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